Arquivo para fotografia

Deixando a guerra “bem na foto”

Posted in Cultura, Curiosidades with tags , , on 19/02/2011 by Ananke

E falando em cobertura de guerras…

Lembrei de um livro que recomendo para todos ( se é que já não recomendei)  “Diante da Dor do Outro”, de Susan Sontag. Nele Sontag discute, dentre outras coisas, essa experiência moderna de ser expectador  quase em tempo real das desgraças alheias e o que as imagens podem inspirar.

Discutindo as coberturas fotográficas  de guerras anteriores,  Sontag afirma que, ao que tudo indica, muitas fotos famosas de guerra  foram encenadas. “A casa do atirador de elite rebelde, Gettysburg” sugere um atirador que morreu em casa. Mas na verdade trata-se  do corpo de um soldado que foi deslocado do local onde estava caído para um abrigo . O fotógrafo, Gardner, colocou ainda pra compor  a cena um rifle “cenográfico” simples de infantaria, e não de atirador de elite.

A casa do atirador de elite rebelde - Getttysburg

A foto mais famosa de Robert Capra continua sob suspeita. Há quem diga que é fake “A morte do soldado republicano”, que mostra o momento exato em que um soldado é atingido, numa colina em Córdoba.

A morte do soldado republicano

Outra foto famosa é ” Levantando a Bendeira em Iwo Jima” que chegou a ganhar Prêmio Pulitz para fotografia.  A foto  foi “dirigida” pelo fotógrafo Joe Rosenthal, inspirado em outra foto icônica e tambem encenada para a câmera (soldados do exército vermelho hasteando a bandeira enquanto Berlim queimava).

Levantando a bandeira em Iwo Jima

Soldados do Exército Vermelho levantam a bandeira da União Soviética sobre o estandarte dos nazistas em Berlim, em 1945

Não é o foco de Sontag apontar quais fotos foram encenadas, mas antes discutir como é frustrante saber que não são reais – preferíamos que fosse. (  Por outro lado, não nos incomoda nem um pouco  ver alguns corpos  “photoshopados” . Quem se importa se é fake? Pra fantasia isso é indiferente.  É provável que as fotos de guerra precisem de realismo para funcionar, as fotos dos nossos “sonhos de consumo” não).

E fica ainda a pergunta:  “A câmera é olho da história?” (Brady)