Taí um post que não publiquei há mais tempo por pura preguiça, mas agora vai.
No início do ano uma corrente “progressista” subiu o volume da campanha pró-aborto. A presidente Dilma nomeou uma nova ministra das mulheres que levantou essa bola antes de esquentar sua cadeira.
O que vimos nos meses seguintes foi um “religiosização” do assunto. Aqueles que defendem o aborto estão rotulando os que não defendem de serem cegos religiosos, e que a igreja está metendo a butuca em assuntos do estado. É a boa e velha prática de desqualificar um oponentente numa discussão.
É verdade que as religiões pregam contra o aborto (todo polegar é dedo), mas isso não impede que alguém se posicione da mesma forma independente de religião (nem todo dedo é polegar). O mais convicto dos ateus pode simplesmente considerar que a única diferença entre um feto e um bebezinho fofinho é que o primeiro AINDA não saiu da barriga.
Semana passada, os ministros do STF se reuniram para decidir se gestações de fetos anencéfalos podem ou não ser interrompidas. Sou a favor neste caso, pois, pra mim, sem cérebro não há vida. Mas alguns ministros que votaram a favor (venceram por maioria) gastaram um tempo precioso de seus votos atacando o binômio religião-aborto.
Li um bom texto que esclarece o posicionamento religioso, especialmente cristão, que, volta e meia, é visto com antipatia por pensamentos “progressistas”.
No blog do Reinaldo Azevedo há um texto sobre o livro “The Rise of Christianity: a Sociologist Reconsiders History” de Rodney Stark. O livro ajuda a por uns pingos nos jotas sobre esse conceito religião x mulher x aborto. Quem quiser ler tudo, clica aqui. É meio longo. Destaquei os trechos mais interessantes que joga uma luz em alguns preconceitos anti-religiosos.
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(…) Em seu magnífico livro, Stark, que é professor de sociologia e religião comparada da Universidade de Washington, lembra que, por volta do ano 200, havia em Roma 131 homens para cada 100 mulheres e 140 para cada 100 na Itália, Ásia Menor e África. O infanticídio de meninas — porque meninas — e de meninos com deficiências era “moralmente aceitável e praticado em todas as classes”. Cristo e o cristianismo santificaram o corpo, fizeram-no bendito, porque morada da alma, cuja imortalidade já havia sido declarada pelos gregos. Cristo inventou o ser humano intransitivo, que não depende de nenhuma condição ou qualidade para integrar a irmandade universal. CRISTO INVENTOU A NOÇÃO QUE TEMOS DE HUMANIDADE! As mulheres, por razões até muito práticas, gostaram.
No casamento cristão, que é indissolúvel, as obrigações do marido, observa Stark, não são menores do que as das mulheres. A unidade da família era garantida com a proibição do divórcio, do incesto, da infidelidade conjugal, da poligamia e do aborto, a principal causa, então, da morte de mulheres em idade fértil. A pauta do feminismo radical se volta hoje contra as interdições cristãs que ajudaram a formar a família, a propagar a fé e a proteger as mulheres da morte e da sujeição.
(…) Nos primeiros séculos do cristianismo, a fé se espalhou nas cidades — não foi uma “religião de pastores”. Um caso ilustra bem o motivo. Entre 165 e 180, a peste mata, no curso de quinze anos, praticamente um terço da população do Império Romano, incluindo o imperador Marco Aurélio — o filme Gladiador mente ao acusar seu filho e sucessor, Cômodo, de tê-lo assassinado. Outra epidemia, em 251, provavelmente de sarampo, também mata às pencas. Segundo Stark, amor ao próximo, misericórdia e compaixão fizeram com que a taxa de sobrevivência entre os cristãos fosse maior do que entre os pagãos. Mais: acreditavam no dogma da Cruz e, pois, na redenção que sucede ao sofrimento. O ambiente miserável das cidades, de fato, contribuía para a pregação da fraternidade universal: os cristãos são os inventores da rede de solidariedade social, especialmente quando começaram a contar com a ajuda de adeptos endinheirados e, nas palavras de Stark, “revitalizaram a vida nas cidades greco-romanas”. Os cristãos inventaram as ONGs – as sérias.
Falácias
Não, grandes bocós!!! O cristianismo, na origem, é a religião da inclusão, da solidariedade e da vida. E A INTERDIÇÃO AO ABORTO CONFERIU DIGNIDADE À MULHER E PROTEGEU-A DA HUMILHAÇÃO E DA MORTE, bem como todos os outros valores que constituem algumas das noções de família que vigoram ainda hoje. Isso a que os cretinos chamam “família burguesa” é, na verdade, na origem, a família cristã, muito antes do desenvolvimento do capitalismo. O cristianismo se expandiu, ora vejam, como uma das formas de proteção às mulheres e às crianças.
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Legal, né não?